Setembro amarelo: quatro questões sobre saúde mental e prevenção ao burnout para a sua carreira — e para o RH da sua empresa
É impressionante a quantidade de amigos que me relatam já terem passado por problemas de saúde mental, burnout ou estarem à beira de um. O gatilho? Quase sempre relacionado ao trabalho
Hoje pego carona com uma pauta importantíssima deste mês — o setembro amarelo. Uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio e o estigma associado a questões de saúde mental.
É impressionante a quantidade de amigos que me relatam já terem passado por problemas de saúde mental, burnout ou estarem à beira de um. O gatilho? Quase sempre relacionado ao trabalho.
Essa percepção empírica tem embasamento em dados oficiais. Segundo o levantamento feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 2021, um em cada quatro brasileiros sofre com a Síndrome de Burnout.
A síndrome tem como característica o esgotamento físico, emocional e mental resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho. Inclusive, em 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) categorizou oficialmente o burnout como uma doença ocupacional.
Outro dado relevante divulgado recentemente, levantado por um estudo da International Stress Management Association (ISMA), DATA, é que o Brasil se destaca como o segundo país com maior número de casos diagnosticados, ficando atrás apenas do Japão. Essa constatação ressalta a relevância do problema no cenário brasileiro.
Essa explosão de casos de burnout me provoca a pensar em que momento perdemos a noção dos limites no trabalho. Afinal, algo deve estar em desequilíbrio para chegarmos a esse atual estado.
Andei pensando com meus botões sobre quatro coisas neste setembro amarelo.
1. O conceito de produtividade precisa ser revisitado
Desde a revolução industrial, parece estarmos estagnados na ideia de que produtividade é sinônimo de longas e extenuantes jornadas de trabalho. As leis trabalhistas estabelecem os limites temporais formais, porém sabemos que nem sempre são respeitados.
E ao falar especificamente sobre as funções que demandam exclusivamente o intelecto, esses limites parecem ainda mais difíceis de serem definidos. Com um celular na mão e alguns aplicativos, é possível conectar-se ao trabalho de maneira contínua.
Ou seja, ser produtivo na era digital parece quebrar toda a lógica à qual estávamos ligados até pouco tempo atrás, em que uma vez fora do escritório, estávamos “off” para poder viver nossas vidas nas outras dimensões.
2. Não faz muito tempo que era virtuoso ser workaholic
Termo amplamente utilizado pelos profissionais que enfatizam o quanto amam trabalhar. Um adjetivo que transmite (ainda?) virtude.
Até pouco tempo atrás, era muito corriqueiro e comum ouvir a expressão. Mas parece termos esquecido sua tradução literal: workaholic significa viciado em trabalho.
E vício é algo que deveríamos combater, certo? Tais como vícios em drogas, jogos e bebidas, o trabalho — quando em doses não saudáveis —deveria ser alvo de combate.
Pode até parecer só uma discussão semântica, mas é importante ressaltar que a linguagem constrói realidades. E, portanto, precisamos ampliar nosso repertório de adjetivos que definem o que é um trabalho saudável.
3. Estigmas perversos do burnout
O que você faz da meia noite às seis da manhã?
Quem nunca ouviu essa frase? Ela está fortemente ligada à ideia de que todas as pessoas bem sucedidas são incansáveis e não param de produzir nunca.
Essa é somente uma de várias outras frases que nos deparamos dentro das organizações, que espalham esse conceito de que quanto mais bem sucedido o indivíduo, mais esforço e tempo foram colocados por ele no trabalho.
O final dessa equação pode ser o esgotamento total da pessoa. E quando isso acontece, esse mesmo profissional, outrora visto como um super herói, passa a sofrer questionamentos sobre o seu próprio potencial: “nossa, fulano não segurou o tranco e teve um burnout.”
Perversidade organizacional: o mesmo esforço que te colocou no topo é o mesmo que te leva aos questionamentos alheios sobre a sua capacidade de resiliência.
4. É preciso atualizar o software das lideranças
Boa parte da avaliação sobre a experiência de trabalho de uma pessoa se constrói a partir da relação dela com a liderança.
Se temos um gestor inapto a cuidar da equipe, é certo que podemos aumentar a probabilidade das pessoas daquele time de vivenciarem situações ruins no trabalho, incluindo o adoecimento mental.
Quando penso nos cuidados que um líder deveria ter, não estou imaginando nada mega elaborado, não. É coisa simples: uma liderança que estabelece objetivos para a equipe, sem levá-las desnecessariamente ao limite.
Para chegar lá, as organizações precisam enxergar valor no estabelecimento de premissas e limites do que é um trabalho saudável. Sem patrocínio dos boards executivos e da alta liderança, qualquer esforço ou iniciativa para criar um ambiente laboral positivo serão em vão.
Setembro amarelo: estabeleça limites e valorize as pausas
Desculpa dizer isso, caros colegas de RH, mas a realidade é mais dura do que gostaríamos.
Bom, e o que fazer com tudo isso neste setembro amarelo? Quais pequenos passos práticos podemos dar para enfrentar essa síndrome?
Antes de mais nada, é importante dizer que as raízes e soluções para o problema da saúde mental podem passar por vários outros aspectos não abordados aqui. Portanto, o meu convite é para um exercício de reflexão e direcionamento mais amplos.
Vamos aos passos
O primeiro é — e eu já devo parecer um disco riscado para você, porque volto a dizer — precisamos investir em autoconhecimento.
Pessoas que se conhecem profundamente conseguem estabelecer limites para elas mesmas e também para os outros.
Se uma organização é um conjunto de várias pessoas, precisamos cuidar delas para termos resultados significativos no coletivo. Líder e liderado, sem exceção, deveriam ter estímulos para se conhecerem mais.
E o segundo é simples, pero no mucho, que é o fomento às pausas. Algo trivial, mas que muitos sentem culpa ao fazê-las.
Esse sentimento (levante a mão quem está comigo nessa) é edificado por vários aspectos. Um deles é o reforço da produtividade ininterrupta como sinônimo de sucesso, como abordei em uma das minhas reflexões aqui.
Entretanto, lembre-se que para produzir mais, mente e corpo precisam estar alimentados com descanso, boa alimentação e movimento físico.
Já tentou fazer com que um controle remoto voltasse a funcionar, mudando a ordem das pilhas? Às vezes dá até uma sobrevida de dias, mas depois elas deixam de funcionar.
Insistir no esforço, sem pausa, é bem parecido com isso.
Aproveitemos o mood do setembro amarelo para reestabelecer limites para nós mesmos, nas relações que estabelecemos com os outros e na priorização de pausas e descansos.
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Fonte: SEU DINHEIRO